John William Waterhouse (1849 - 1917) foi um pintor inglês, conhecido pelas
suas obras no estilo pré-rafaelita. Mesmo
que na arte britânica este fosse um estilo fora de moda há décadas, recebendo
também influência de seus contemporâneos, os impressionistas. Suas obras
eram conhecidas por representações de mulheres da mitologia grega, das
obras de Shakespeare, e de lendas
medievais, como a do Rei Arthur.
Selecionamos aqui algumas de suas melhores
obras com referências mitológicas ou místicas, todas com personagens
predominantemente femininos, como era característica do pintor:
Hilas e as
ninfas (1896)
A cena aqui retratada faz parte da lenda
grega dos Argonautas, nome dado aos tripulantes da nau Argo, que partiu em
busca do Velocino de Ouro. Hilas era um dos argonautas e, durante uma parada em
Misia (Ásia menor), foi atraído pelas Naiades, ninfas dos lagos e fontes. Héracles,
também argonauta, abandonou a expedição para tentar encontrá-lo, e enquanto
discutia com as Ninfas por causa do rapaz, o Argo partiu deixando-o. Ao final
da viagem a nau foi consagrada à Netuno.
Circe oferecendo o cálice para Ulisses (1891)
Circe era,
na mitologia grega, uma feiticeira, em versões racionalizadas do mito, uma
especialista em venenos. Também aparecia como uma deusa ligada à feitiçaria,
assim como sua mãe Hécate. Waterhouse faz referência na pintura ao
encontro de Ulisses e Circe, na Odisseia de Homero. Na epopeia, Circe oferece
vinho e iguarias aos companheiros de Ulisses, para depois transformá-los em
porcos. Ulisses, ajudado por Hermes, não cai no mesmo feitiço e recebe a
hospitalidade da deusa.
Ulisses e as sereias (1891)
Depois de sair da ilha de Circe, Ulisses
passaria pela costa da ilha das sereias. Ela então o aconselhou a cobrir com
cera o ouvido de seus marinheiros, de modo que não ouvissem o canto
enfeitiçado, e a amarrar-se no mastro dando instruções a seus homens para não o
libertar até ter passado o perigo. O interessante nessa pintura é que
Waterhouse representa as sereias conforme eram descritas na Grécia antiga,
seres mistos de pássaro e mulher, diferente do que conhecemos hoje. Entretanto,
não se deve confundir as sereias gregas com as harpias. Estas nada cantam, são
criaturas horrendas e sua fama está em raptar crianças e almas.
A
sereia (1901)
Aqui o pintor representa a visão atual da
sereia, que suplantou a ideia da mulher-pássaro ao longo da Idade Média, a
começar pelas regiões do Mediterrâneo. A transformação pode estar relacionada
ao desenvolvimento da navegação que permitiu viagens pelo alto mar, onde
entendemos atualmente como local das sereias, longe das rochas costeiras em que
elas ficavam na versão da antiguidade.
O círculo mágico (1886)
É evidente a presença da
temática da magia nesta pintura, sendo um dos trabalhos da fase inicial do
pintor. A figura retratada aparenta ser uma bruxa ou sacerdotisa, com a pele
morena de uma mulher de origem do Oriente Médio e vestes de guerreira grega ou
persa. Em sua mão esquerda ela
segura uma foice em forma de crescente, relacionando-a com a lua e Hécate. Com
a varinha em sua mão direita ela desenha um círculo mágico de proteção em volta
dela. Fora do círculo a paisagem é seca; um grupo de gralhas ou corvos e um
sapo (associados com a feitiçaria) ficam do lado de fora, mas dentro de seus
limites há flores e a própria mulher, símbolos de beleza.