Apoteose
Apoteose significa elevar um ser humano
ao status de deus, ou algo relacionado ao divino. Isso ocorria na antiguidade
por diversos fatores, mas essencialmente estava relacionado ao poder político e
religioso, este último que era muito relevante no passado. Em relação ao poder
político temos no antigo Egito a apoteose dos faraós, que eram vistos como
deuses e por isso deviam governar, também temos relatos sobre essa mesma
prática na Mesopotâmia e Pérsia. Na Grécia, os heróis após seus atos de bravura
ganhavam esse título divino e após sua morte poderiam adentrar os Campos
Elísios. Já em Roma o aspecto era mais político, todo o imperador era como se
fosse a representação de Deus.
Passado os tempos e já durante a Idade
Média os reis se autoproclamavam representes escolhidos por Deus, isso teve
mais força durante o absolutismo, quando os monarcas deixaram de atribuir tanto
poder ao Papa (este que também se proclama supremo representante de Deus) e
passaram a atribuir para si mesmos, aumentando assim seus poderes. Essa prática
de centralizar a autoridade, tirando partes ou todo o poder do clero, foi
necessário, pois, não só na Idade Média como em outras épocas e culturas, o
poder religioso, acabava por se destacar entre os outros poderes, enfraquecendo
assim o monarca, um exemplo disso foi Faraó Amenófis que substituiu a prática
politeísta pela monoteísta, onde se
passou a apenas cultuar o Deus Aton, o que enfraqueceu os sacerdotes, que há
várias dinastias haviam se tornado mais relevantes que o governo.
Apesar de parecer estranho que as
pessoas dessas épocas e culturas acreditassem que alguém só por ter um cargo
importante ou o sangue real, ou até mesmo por ter conseguido realizar alguma
proeza, pudessem em vida e corpo físico, se tornar Deus, essa crença era aceita
não somente pelas camadas mais pobres da região, mas também até pelos nobres e
intelectuais da época. E até o período da II Guerra Mundial os imperadores
japoneses mantiveram seu poder por alegar ligações divinas.
O Culto à Personalidade
O termo culto à personalidade foi
utilizado pela primeira vez por Nikita Khrushchev no "Discurso
Secreto" para denunciar Josef Stalin. Khrushchev citou uma carta de Karl
Marx, que critica o "culto do indivíduo". Um culto da personalidade é
semelhante a apoteose, exceto que ele é criado especificamente para os líderes
políticos. No entanto ganhou outros ramos com o tempo.
A Alma do Negócio
Este culto consiste em diversas
propagandas que irão ressaltar e até criar qualidades fazendo com que o povo
crie uma admiração por seu líder, ignorando diversos fatos como repressão tanto
física como psicológica, além de corrupção e diversos crimes.
Este instrumento é muito usado nas
ditaduras de todo o mundo e de todas as espécies sendo elas fascistas ou
comunistas. Algo interessante é que esse culto a imagem foi o que deu origem à
publicidade, pois na época de Hitler era necessário fazer com que ele parecesse
uma resposta quase divina a todas as necessidades do povo alemão.
Até mesmo no Brasil, Getúlio Vargas
utilizou dessa estratégia de publicidade para manipular a população, e até hoje
muitas pessoas nutrem admiração pelo período ditatorial da era Vargas. Algumas
pessoas indo mais longe admiram o período também fascista da ditadura militar.
Mas o culto à personalidade não se
restringe apenas às ditaduras, encontramo-lo até nas democracias, como foi o
caso de John Kennedy, Ronald Reagan e Barack Obama.
A Adoração Pelo Próprio Reflexo
Um fator relevante que diferencia a
apoteose do culto à imagem é que no primeiro caso o humano adorado ficava
distinto dos outros humanos, era superior aos seus súditos, mas já no culto a
personalidade o líder é apenas um semelhante que tem prestígio pela
população. Como observou o Henrique V de Shakespeare para seus soldados,
lembrando que na essência ele – o rei – era tão humano quanto todos os
presentes, “[...] his ceremonies laid by, in his nakedness he appears but a
man” (Henrique V, ato IV, cena I).
E como foi dito anteriormente a
apoteose e até mesmo o culto à imagem parece ser algo difícil de entender, e
saber o porquê dessa necessidade do ser humano buscar em seus semelhantes algo
a se adorar. No entanto, acreditamos que essa prática ainda persistirá por
muito tempo na humanidade, um reflexo disso é a adoração pelas celebridades,
talvez elas sejam os heróis de nosso tempo, mas ao invés de terem alcançado tal
status por meio de proezas, esse reconhecimento vem por meio de uma maciça
propaganda e necessidade do homem de criar ídolos a sua semelhança.