terça-feira, 5 de maio de 2020

O Eterno Retorno do Mesmo




O Eterno Retorno é um conceito filosófico que remete a ideia que todas as coisas têm uma ordem cíclica. Ou seja, tudo em certo momento tende a se repetir, cada nascimento é posterior a uma morte e cada morte é posterior a um nascimento.

No ocidente temos essa ideia divulgada pela primeira vez no século 3 a.C. pelo estoicismo, que resumidamente é uma corrente filosófica  que nos diz que devemos viver de acordo com a ordem natural, pois, eles ensinavam que tudo estava enraizado a natureza. E esta por seu caráter repetitivo, foi à base para o primeiro pensamento sobre o eterno retorno.

Mais tarde na Alemanha, Nietzsche analisou novamente essa ideia, sendo considerado seu mais profundo e amedrontador pensamento, que apareceu em diversas obras, mas em especial no livro Gaia Ciência, onde é evidenciado por este trecho:

  "E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Está vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!”“. Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

Diferente dos estoicos, Nietzsche dá um aspecto mais sombrio e realista ao pensamento. Pois, diferindo dos filósofos clássicos, ele não relaciona as repetições ao modo de como a natureza funciona, mas sim a fatores sociais e individuais, visto que ele acreditava estarmos sempre presos a um número limitado de fatos, fatos estes que se repetiram no passado, ocorrem no presente e se repetirão no futuro, como por exemplo, guerras, epidemias, dominação social, etc.

Para ele o mundo não era feito de polos opostos, mas sim de faces complementares de uma mesma, diversificada, porém única. Todas as formas humanas de interpretar a realidade como: bem, mal, sofrimento e prazer, não passavam de instâncias fadadas a eterna repetição. Porque como a realidade/existência não tem objetivo (até porque se tivesse já teria alcançado) a alternância não tem fim.

Apesar de Nietzsche ter deixado esse conceito incompleto, é possível analisar a questão moral a cerca do individuo, este fadado ao um ciclo interminável de fatos distribuídos de forma indefinível, tem como ultimo recurso o questionamento da ordem das coisas e posteriormente o poder da VONTADE, como fica evidenciado no trecho "quero isto ainda uma vez ou inúmeras vezes?".

Resumidamente o único jeito de quebrar o eterno retorno é por meio de uma atitude impulsionada pelo querer, posterior a uma análise de fatores internos e externos. Caso seu modo de vida atual não lhe agrade, e você se sinta estagnado, será necessária uma mudança radical no seu modo de viver, dessa forma quebrando o antigo ciclo, assim permitindo que sua vida comece a caminhar para frente.

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